Perdas por efeitos climáticos ampliam uso do seguro agrícola

A adoção do seguro agrícola no Rio Grande do Sul deve crescer em 2020, estimulada não só pelos danos da atual estiagem, como por outros eventos climáticos recentes. Além da falta de chuva neste verão, que prejudicou, especialmente, as lavouras de milho, outros eventos climáticos já haviam estimulado o uso maior dessa proteção entre os gaúchos. Entre eles, estiveram as experiências amargas como a enxurrada da Fronteira-Oeste no final de 2018 e no início de 2019, bem como os danos no trigo no último inverno.

Ao analisar dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) sobre o seguro agrícola no Estado e no Brasil, o diretor comercial do BB Seguros, Reinaldo Yokoyama, avalia que já ocorre aqui uma procura maior pelo serviço. Em 2019, até o mês de novembro, em comparação com a totalidade do ano de 2018, houve alta de 23% nos prêmios pagos em seguros agrícolas (que soma apenas a proteção a lavouras, sem contar seguro de máquinas e outros), ante 18% da média nacional. De R$ 377,8 milhões em 2018, o valor desembolsado saltou para R$ 464,9 milhões nos 11 primeiros meses de 2019.

De 8,5 mil seguros efetivados pelo BB Seguros no Rio Grande do Sul no acumulado de 2019, neste segmento, apenas cerca de 500 já tiveram sinistros comunicados em razão da estiagem – o que equivale a cerca de 6% do total. Mas o banco se prepara para uma demanda crescente a partir de agora, quando as perdas no milho, principalmente, começam a ser consolidadas. Virão 10 peritos de outras regiões para atuarem temporariamente no Rio Grande do Sul, além de profissionais que atuam em regiões com baixa de sinistro reforçando as equipes

“Estamos direcionando mais peritos para o Estado para fazer avaliações por região, e não de produtor a produtor. Devido a criticidade do que está ocorrendo na região, vamos acelerar o trabalho com uma operação especial, antecipa Yokoyama.

A expansão dos recursos federais, que está em estudo no governo, poderia ajudar a sanar a carência que deixa de fora desse benefício milhares de produtores e é alvo de queixas, por exemplo, da Federação dos Produtores de Arroz (Federarroz). De acordo com Alexandre Velho, presidente da Federarroz, o percentual de lavouras de arroz seguradas é muito pequeno, e não deve chegar a 10% da área total. Um dos motivos é que, ao fazer o seguro e solicitar o subsídio público, o produtor entra em uma “fila” de análise para subvenção.

“Mesmo o atual R$ 1 bilhão ainda é pouco para toda a produção nacional de grãos. Isso gera insegurança, mesmo tendo sido ampliado em relação aos R$ 440 milhões de 2019. O produtor faz o seguro, aposta que vai receber a subvenção e, muitas vezes, falta o dinheiro. Então ele tem que pagar sozinho essa diferença. Nunca existe a certeza de que terá o subsídio”, critica Velho.

O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro-RS), Paulo Pires, lembra que, dentro do sistema cooperativo, há um modelo próprio de gerenciar esses riscos, tanto por segurança do produtor quanto do próprio sistema coletivo. Ao comercializar o grão com uma cooperativa, normalmente, há um seguro acompanhando o negócio. Isso ocorre porque, se os danos climáticos afetarem toda uma região, um grande grupo de associados terá perdas, afetando diretamente as finanças e os contratos futuros da cooperativa como um todo.

“Mas, em alguns casos, fica inviável fazer o seguro. No trigo, que teve grandes perdas no ano passado, o custo do seguro pode representar até 16% do total gasto na lavoura com os penduricalhos agregados pelos bancos, em muitos casos”, destaca Pires.

Ministério da Agricultura tenta levar subsídio de R$ 1 bilhão para R$ 1,5 bilhão em 2021

Em negociação entre o ministério da Economia e o da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a ampliação do subsídio para o seguro rural – de quase R$ 1 bilhão, em 2020, para R$ 1,5 bilhão em 2021 – pode ser um alento aos produtores.

De acordo com Pedro Loyola, diretor do Departamento de Gestão de Riscos do Mapa, com o incremento que está sendo solicitado ao Ministério da Economia – aliado à alteração em percentuais de participação pública -, por exemplo, será possível ampliar significativamente o número de apólices assinadas.

Loyola explica que, neste ano, já será possível alcançar um incremento considerável com o aumento de R$ 440 milhões destinado a produto, em 2019, para cerca de R$ 1 bilhão em 2020. Alterando os percentuais da subvenção em algumas culturas, diz o executivo, foi possível aumentar em 17% o número de produtores que conseguem acessar o seguro.

“Reduzindo um pouco o subsídio na soja e no milho de verão, por exemplo, podemos alcançar 255 mil apólices. Em 2019, com a regra antiga, por exemplo, com o mesmo R$ 1 bilhão seria possível ter 210 mil apólices”, explica Loyola.

De acordo com diretor do Mapa, os produtores gaúchos estão em segundo lugar no ranking dos maiores usuários do seguro agrícola destinado a reduzir os riscos de prejuízos na lavoura. Os prêmios com origem no Rio Grande do Sul somariam cerca de 20% do total, atrás apenas do Paraná (29% do total).

Ainda segundo Loyola, 40% das lavouras de soja e 50% da área semeada com milho no Estado estão cobertas por seguros vinculados a financiamentos para custeio. Ao todo, o Rio Grande do Sul demandou R$ 90 milhões em subvenções no ano passado.

Fonte: Jornal do Comércio

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