Nuvens de gafanhotos são normais e não devem ser motivo de pânico
Segundo a Embrapa, o fenômeno não tem nenhuma associação com eventuais desequilíbrios climáticos e ocorre há milhares de anos; conheça essa história
As nuvens de gafanhotos ocorrem em todos os continentes e há milhares de anos, tanto que são narradas inclusive em textos bíblicos que contam sobre as pragas do Egito. no entanto, explica a empresa brasileira de pesquisa agropecuária (Embrapa), das mais de 12 mil espécies catalogadas, menos de 30 são capazes de fazer essa aglutinação e formar as nuvens.
Na América do Sul há registros de nuvens de gafanhotos atacando cultivos de mandioca na província de Buenos Aires em 1538. O espanhol Nuñes Cabeza de Vaca no final do século XVI, relatou ataques de gafanhotos, vitimando os indígenas e causando fome na região do rio Paraguai.
O gafanhoto das “nuvens” atuais, na Argentina e no Paraguai, é um velho conhecido dos pesquisadores e agricultores e seu nome científico é Schistocerca cancellata. O Programa Nacional dos Gafanhotos da República Argentina existe há 128 anos e é o mais antigo programa do Ministério da Agricultura e de qualquer esfera de governo daquele país.
A preocupação entre os argentinos é que a nuvem de gafanhotos ataque as plantações de trigo e aveia, que estão em fase de crescimento, além do pasto dos animais. Segundo o Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa), uma nuvem de gafanhotos é capaz de consumir uma quantidade folhas equivalente a uma colheita capaz de alimentar 2.500 pessoas em um dia.
A dieta do inseto varia entre folhas, cerais, capim e outras gramíneas. De acordo informações repassadas à Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, a nuvem é originária do Paraguai, das províncias de Formosa e Chaco, onde há culturas de cana-de-açúcar, mandioca e milho.
Combate unificado ao gafanhoto
Criado em 1891, o programa até 1940 esteve focado na luta defensiva contra os gafanhotos. Com o advento dos pesticidas, o programa inaugurou a luta ofensiva, que durou até 1954. A partir daí foi inaugurada a luta preventiva, com o avanço do conhecimento científico sobre a biologia e a ecologia dos gafanhotos e meios de monitoramento e controle.
Ainda segundo a Embrapa, pululações de gafanhotos não devem ser atribuídas a questões políticas ou imaginários desequilíbrios ambientais de origem humana. A ciência estabeleceu: nuvens de gafanhotos resultam essencialmente de sequências favoráveis de eventos meteorológicos, intra e plurianuais, seja na Ásia, África, Austrália ou Américas.
Antes da fase gregária é possível evitar a formação de nuvens por meio do controle precoce das formas juvenis dos gafanhotos. Na Argentina existem até aplicativos para sinalizar a localização da concentração de saltões (gafanhotos jovens). Para nuvens já formadas, existe uma ampla gama de produtos, desde hormônios até pesticidas, para controlar a praga e reduzir seu impacto.
A pulverização aérea é muito eficaz em determinados casos. Na América do Sul, neste período (inverno), as principais colheitas já ocorreram. Os gafanhotos podem causar danos a pastagens e, sobretudo, a áreas irrigadas e de cana de açúcar, mas ainda estão longe disso.
Incidência no Brasil
Esta praga está presente no Brasil desde o século 19 e causou grandes perdas às lavouras de arroz na região sul do País nas décadas de 1930 e 1940. Desde então, tem permanecido na sua fase “isolada” que não causa danos às lavouras, pois não forma as chamadas “nuvens de gafanhotos”. Recentemente, voltou a causar danos à agricultura na América do Sul, em sua fase gregária.
No Brasil, as autoridades fitossanitárias estão em contato com os seus pares argentinos, bolivianos e paraguaios por meio do Grupo Técnico de Gafanhotos do Comitê de Sanidade Vegetal (Cosave), o que tem permitido um acompanhamento do assunto em tempo real, com o objetivo de adotar as medidas cabíveis para minimizar os efeitos de um eventual surto da praga no Brasil.
Manual de controle dos gafanhotos
O governo brasileiro decretou estado de emergência fitossanitária no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina por conta da possível chegada da praga ao Brasil. De acordo com o chefe da divisão de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Jairo Carbonari, o status permite o estabelecimento de protocolos, manuais de procedimentos e autorização de uso de produtos, como agroquímicos, necessários para o controle da praga.
O ministério divulgou também um manual técnico com orientações sobre as ações de controle da praga adaptado às condições do Brasil. “Respaldado por dados científicos, com a devida capacitação dos agentes envolvidos num eventual surto da praga no país”.
Em entrevista ao Canal Rural, o fiscal estadual agropecuário da inspetoria de Defesa Agropecuária de Itaqui (RS), Juliano Ritter, explicou que o monitoramento desta nuvem atual está sendo feita por profissionais brasileiros desde o último dia 24 de junho.
O acompanhamento que antes era feito em Barra do Quaraí, se deslocou para outras cidades conforme os animais se moviam, como São Borja e Uruguaiana.
O trabalho do Ministério da Agricultura segue em ritmo de alerta em conjunto com as equipes técnicas das Superintendências Federais de Agricultura e dos órgãos estaduais de Defesa Agropecuária nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, além de unidades federais de vigilância agropecuária localizadas na fronteira com o Rio Grande do Sul.
Fonte: Agência Brasil