Dólar atrapalha emissão de dívida no exterior
A alta do dólar se tornou uma azeitona na empada das empresas brasileiras que aproveitam a queda nas taxas de juros para emitirem títulos de dívida no exterior. Do início do ano para cá, companhias do país levantaram pelo menos US$ 7,25 bilhões em sete operações lá fora, segundo dados compilados pela consultoria Alvarez & Marsal. Especialistas alertam que é preciso cautela para se proteger de oscilações cambiais.
Só em janeiro, companhias do País levantaram US$ 5,7 bilhões em seis operações lá fora, segundo dados da Anbima, que reúne as entidades dos mercados financeiros e de capitais. Foi um salto sobre os US$ 750 milhões do primeiro mês de 2019. A maior parte funciona como estratégia para melhorar o endividamento, podendo colaborar ainda para custear investimentos.
A corrida ao exterior, avalia Leonardo Coelho, diretor da Alvarez & Marsal, é resultado de uma transformação em curso na economia devido à queda na taxa de juros. “Investidores estão aprendendo a buscar outros ativos atrás de rentabilidade, como fundos imobiliários e de venture capital e também títulos de dívida. As empresas enxergaram nesse movimento uma janela de oportunidade para trocar dívidas, alongando prazos e reduzindo custo”, explica ele. “A apreciação do dólar traz pressão a essas operações, mas isso se atenua se feitas por empresas exportadoras e com receitas lastreadas na moeda americana, um hedge natural.”
Em fevereiro vieram operações como a da Eletrobras. A captação de US$ 1,25 bilhão pela estatal ilustra a oportunidade internacional. Com uma dívida no mercado externo de US$ 1,75 bilhão, de vencimento em 2021 e taxa de 5,75%, decidiu fazer nova emissão, em paralelo a uma oferta de recompra desses títulos que vencem ano que vem. A estatal chegou a 64% do que planejava arrecadar, com uma oferta de US$ 500 milhões em títulos com vencimento em cinco anos e taxa de 3,635% e outra de US$ 750 milhões, com vencimento em dez anos e taxa de 4,625%.
Para Carlos Antonio Rocca, diretor do Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fipe (Cemec-Fipe), a tendência é que essas operações cresçam. “Há maior facilidade de acesso ao mercado internacional pela queda do risco país. As empresas conseguem colocar seus papeis lá fora com taxas menores e preços mais atraentes.”
Pedro Campos, à frente da área de Mercado de Dívida do Bank of America, reafirma que mais operações virão. “O mercado de renda fixa externo continuará aquecido. O cenário de juros baixos continua causando uma procura por lucro em ativos de países emergentes. E há muita liquidez na mão dos investidores.”
Fonte: Jornal do Comércio