Uruguai tem disputa acirrada à presidência

A disputa do segundo turno da eleição à presidência do Uruguai foi literalmente disputada voto a voto. Até o fechamento desta edição, às 23h15min, a apuração prévia apontava a vitória do candidato de centro-direita Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional.

Entretanto, a diferença não superava um ponto percentual e, em números absolutos, não passava de 30 mil votos sobre o governista da Frente Ampla, Daniel Martínez. Dos 3,5 milhões de habitantes, 2,7 milhões estavam aptos a votar. O comparecimento às urnas foi de 90%.

A apuração acirrada contraria previsões das pesquisas na semana anterior ao pleito, que indicavam uma vantagem de pelo menos cinco pontos percentuais a favor de Lacalle Pou.

Por outro lado, as pesquisas de boca de urna, logo após encerrada a votação, indicavam uma batalha acirrada, com pequena vantagem de Lacalle Pou.

O candidato do Partido Nacional (Blanco) formou uma coalizão com cinco partidos no segundo turno.

Aos 46 anos, Lacalle Pou pode pôr fim a uma hegemonia da esquerda, que está no poder há 15 anos. Os últimos três presidentes, todos frenteamplistas, foram Tabaré Vázquez, que teve dois mandatos, entre 2005 e 2010 e depois de 2015 a 2020; e José Pepe Mujica, que governou de 2010 a 2015.

Segundo colocado no primeiro turno, Lacalle Pou se aliou ao terceiro e ao quarto candidatos mais votados em primeiro turno, Ernesto Talvi e Guido Manini Ríos, respectivamente, formando, assim, uma aliança, a fim de angariar votos suficientes para uma virada. A posse do novo presidente será no dia 1 de março de 2020.

A esquerda sabia que vencer mais uma eleição seria uma tarefa difícil. O crescimento econômico lento e a criminalidade em alta foram os fatores mais visíveis da fuga de votos dos governistas da Frente Ampla. Mas um outro ponto que contou para o novo cenário foi o distanciamento entre o presidente Tabaré Vázquez e o interior do país.

Um microcosmo que explica esse afastamento está no departamento de Maldonado, um dos maiores centros produtores do Uruguai. Na eleição presidencial de 2014, a Frente Ampla, de Vázquez, venceu o Partido Nacional, de Luis Lacalle Pou (39% a 35%). Quatro anos depois, no primeiro turno, em outubro, o mesmo candidato Lacalle Pou derrotou o governista Martínez (38% a 30%) – a diferença se moveu 12 pontos porcentuais na direção da centro-direita.

O divórcio com o interior foi em câmera lenta. Em fevereiro de 2018, Vázquez trocou insultos com produtores rurais que protestavam com o preço dos combustíveis diante da sede do Ministério da Pecuária. “Nos vemos nas urnas”, gritou um pecuarista. O presidente olhou para trás e respondeu: “Sim, nos vemos nas urnas, porque vocês são um movimento político”.

Outra queixa comum no interior do país é a reforma bancária promovida recentemente. Agora, todos os salários são pagos por transferência bancária, facilitando o controle da movimentação financeira por parte do Estado. O problema é que a medida vem asfixiando os pequenos negócios do interior, onde há escassez de caixas eletrônicos.

Esquerda sabia que vencer seria uma tarefa difícil

Após 15 anos no poder, a esquerda sabia que vencer mais uma eleição seria uma tarefa difícil. O crescimento econômico lento e a criminalidade em alta foram os fatores mais visíveis da fuga de votos dos governistas da Frente Ampla. Mas um outro ponto que contou para derrota foi o distanciamento entre o presidente Tabaré Vázquez e o interior do país.

Um microcosmo que explica esse afastamento está no departamento de Maldonado, um dos maiores centros produtores do Uruguai. Na eleição presidencial de 2014, a Frente Ampla, de Vázquez, venceu o Partido Nacional, de Luis Lacalle Pou (39% a 35%). Quatro anos depois, no primeiro turno, em outubro, o mesmo candidato Lacalle Pou derrotou o governista Martínez (38% a 30%) – a diferença se moveu 12 pontos porcentuais na direção da centro-direita.

O divórcio com o interior do país foi em câmera lenta. Em fevereiro de 2018, Vázquez trocou insultos com produtores rurais que protestavam com o preço dos combustíveis diante da sede do Ministério da Pecuária. “Nos vemos nas urnas”, gritou um pecuarista. O presidente olhou para trás e respondeu: “Sim, nos vemos nas urnas, porque vocês são um movimento político”.

“A Frente Ampla perdeu eleitores nas classes média e alta, dos quais já vinha se afastando desde 2004. Mas, acima de tudo, perdeu votos na classe baixa do interior. São eleitores novos, sem lealdade partidária, que se sentiram enganados e decidiram mudar o voto”, diz Eduardo Bottinelli, diretor da consultoria Factum.

Outra queixa comum no interior do país é a reforma bancária promovida recentemente. Agora, todos os salários são pagos por transferência bancária, facilitando o controle da movimentação financeira por parte do Estado. O problema é que a medida vem asfixiando os pequenos negócios do interior. Como há escassez de caixas eletrônicos, os correntistas sacam o salário na capital e gastam em grandes redes de supermercados.

No entanto, mesmo sabendo que as zonas rurais eram um de seus flancos mais vulneráveis, a Frente Ampla ignorou o campo e foi às eleições com uma chapa liderada por Martínez, ex-prefeito de Montevidéu, e Graciela Villar, que também integrou o governo departamental da capital.

Quem é Lacalle Pou?

Luis Lacalle Pou tem 46 anos, é formado em Direito, mas nunca advogou. Desde os 24 anos se dedica à vida política e já exerceu os cargos de deputado e senador. Opositor ferrenho do socialismo, vem de uma família de políticos. É filho do ex-presidente do Uruguai Luis Alberto Lacalle, que governou de 1990 a 1995 e da ex-senadora Julia Pou. É bisneto de Luis Alberto de Herrera, um dos políticos mais influentes da história do Partido Nacional.

Ele já havia concorrido à presidência nas últimas eleições, em 2014, quando perdeu, em segundo turno, para Tabaré Vázquez, da Frente Ampla. É criticado pelos opositores por ter sido educado sempre em colégios privados, razão pela qual o consideram distante da realidade social das classes mais baixas.

O político defende que o Estado atualmente é caro e ineficiente. Ele propõe um maior controle sobre os gastos públicos, redução da dívida pública e, a médio prazo, redução de impostos. Defende o fim de algumas políticas sociais criadas nos últimos governos, além de aumentar a idade da aposentadoria, permitir aos policiais atuar em legítima defesa e privatizar empresas públicas, por exemplo.

Fonte: JC

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