Mapa e Embrapa fecham parceria para diagnóstico do mormo
A Embrapa e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) se reuniram para estabelecer acordo de parceria para validação de tecnologias para a diagnose da doença do mormo. Doença infecciosa que atinge principalmente os equídeos, o mormo pode causar grandes prejuízos para os criadores de cavalos, pois o sacrifício dos animais infectados é obrigatório. O Brasil possui o terceiro maior rebanho de equinos no mundo e o maior da América Latina. Por isso um diagnóstico preciso por meio de exames de sangue é fundamental para se fazer estudos epidemiológicos e estabelecer políticas públicas que promovam o estabelecimento de regiões livres da doença, considerada uma zoonose, por também atingir seres humanos.
Na sexta-feira (26), os pesquisadores da Embrapa apresentaram a técnicos e dirigentes do Mapa e da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) o projeto de pesquisa da Embrapa “Avanços no Diagnóstico do Mormo Equino no Brasil”, aprovado em 2018 na carteira de projetos, no âmbito do Portfólio Sanidade Animal. O encontro foi coordenado pelo diretor do Departamento de Defesa Agropecuária da Secretaria de Saúde Animal, Geraldo Marcos de Moraes. Reuniu técnicos do Mapa, bem como os pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul, Emanuelle Gaspar (líder do projeto) e da Embrapa Gado de Corte, Flábio Araújo, responsáveis pela apresentação do trabalho desenvolvido pela Empresa.
“A discussão desta proposta é resultado do trabalho que a Embrapa vem realizando junto às Câmaras Setoriais e Temáticas do Mapa, especificamente na Câmara Setorial da Equideocultura. O mormo foi uma das demandas priorizadas pela ministra durante a reunião que manteve com essas instâncias de representação das cadeias produtivas do agronegócio. Acreditamos que o trabalho será de grande relevância para a construção de uma política pública para o enfrentamento desta doença no País”, destacou Jefferson Costa, pesquisador da Gerência de Relações Institucionais e Governamentais da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Grig/Sire). O pesquisador atua, desde 2018, como articulador da atuação da Embrapa junto às câmaras setoriais e temáticas do Mapa.
A pesquisadora Emanuelle Gaspar apresentou os resultados da pesquisa do projeto que a Embrapa vem desenvolvendo em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (Ufrpe) para realizar os testes de diagnóstico da doença. A especialista ressaltou que os testes com maior confiabilidade podem evitar a disseminação do mormo, bem como as contestações judiciais de diagnósticos, o que tem se tornado bastante frequentes, pela baixa confiabilidade que a população tem na prova de FC (Fixação de Complemento, teste antigo utilizado para se chegar ao diagnóstico). Animais diagnosticados com mormo são obrigatoriamente sacrificados, pois se trata de uma doença altamente contagiosa.
“A demanda para o trabalho com o mormo chegou à Embrapa Pecuária Sul, em 2016, por meio de produtores da região bastante preocupados, pois, na época, não existia um diagnóstico preciso, por isso, eles procuraram a Unidade, em Bagé. Identificamos, de fato, a lacuna na pesquisa com relação ao diagnóstico mais confiável. Assim, construímos o projeto com o objetivo geral de promover avanços na metodologia”, destacou Emanuelle em sua apresentação.
Segundo ela, o professor universitário Roberto Soares Castro, especialista da Universidade Federal Rural de Pernambuco (Ufrpe), já tinha produzido um kit diagnóstico, porém, ainda faltavam alguns testes para serem realizados para atender ao estágio 4, preconizado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), que envolve a definição de parâmetros para implementação de testes de diagnóstico. De acordo com a pesquisadora, o diagnóstico deve alcançar quatro estágios para ser confiável e o trabalho da Ufrpe já havia alcançado os 3 estágios iniciais. Coube o projeto da Embrapa, além de outras frentes de atuação, atender o estágio 4 do processo de validação.
“A novidade da nossa pesquisa é a caracterização de novos antígenos para melhorar o processo de diagnóstico”, destacou a pesquisadora. Ela ressaltou que para casos de mormo os diagnósticos podem apontar reações falso-positivas, que levam ao abate do animal desnecessariamente, e reações falso-negativas, que impedem o abate do animal e promove a disseminação da doença para outros animais, já que o equino permanece no rebanho, por ser considerado saudável, quando na verdade estaria contaminado. “Portanto, um diagnóstico preciso é de grande relevância para a garantia da sanidade animal”, esclareceu a pesquisadora da Embrapa.
A partir das explicações da equipe da Embrapa e dos debates em torno das expectativas do Mapa, ficou acertado que a Embrapa irá receber, nos próximos meses, os chamados isolados do patógeno (organismos causadores da doença) para realizar a caracterização genética molecular e, assim, testar a confiabilidade e pureza dos mesmos.
Após a caracterização, um experimento que está sendo planejado pela Embrapa por solicitação do Mapa, envolverá a inoculação de animais com os patógenos caracterizados geneticamente para a realização do diagnóstico utilizando dois kits de diagnose por Elisa (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay ou ensaio de imunoabsorção enzimática), um teste imunoenzimático que permite a detecção de anticorpos específicos, por exemplo, no plasma sanguíneo de equídeos. “O trabalho em parceria que vamos realizar permitirá a validação dos kits e a realização de estudos epidemiológicos do mormo no Brasil. Os testes serão coordenados por integrantes do Portfólio de Sanidade Animal da Embrapa”, esclarece Jefferson Costa.
O objetivo do estudo epidemiológico será conhecer mais detalhadamente onde se encontra a doença, ou seja, onde é maior a sua proliferação no país e, a partir daí, construir políticas públicas que criem, por exemplo, zonas de exclusão. Os resultados constituirão a base para a elaboração de uma política pública de grande relevância.
Mormo
O mormo é uma doença contagiosa da equideocultura, causada pela bactéria Burkholderia mallei, que também é uma zoonose. Os animais infectados pela doença podem apresentar tanto infecção crônica, quanto aguda. Cavalos normalmente apresentam a forma crônica da doença e podem sobreviver por vários anos, aumentando o risco de disseminação do patógeno no rebanho. Infecções subclínicas ou latentes são considerações importantes na epidemiologia do mormo, pois um animal com a doença “oculta” é uma potencial fonte de infecção devido à eliminação permanente ou intermitente da bactéria. A transmissão se dá por inalação, ingestão de alimentos ou água contaminados ou por inoculação.
Essa forma de contaminação, associada às condições de higiene precárias, alta densidade populacional do rebanho e estresse animal, facilita a disseminação da doença, que, geralmente é introduzida em uma população de animais, pela entrada de cavalos doentes no rebanho. A identificação correta de animais doentes é, portanto, a chave para o controle e erradicação do mormo.
Fonte: Embrapa
Foto: Maria Clara Guaraldo / Embrapa