Insumos põem em risco produtividade da soja

Produtores gaúchos de soja que já começaram a comprar os insumos para a safra 2019/2020 começam a se deparar com uma dura realidade. Depois de semear aquela que foi possivelmente a safra mais cara da história, no ciclo 2018/2019, os sojicultores iniciam as aquisições ou pesquisas para o próximo plantio com preços ainda maiores.

Mesmo com o dólar tendo caído de cerca de R$ 4,00, em julho de 2018, para perto de R$ 3,75 atualmente, os valores de sementes, fertilizantes, herbicidas e inseticidas foram elevados, de acordo com o vice-presidente da Federação da Agricultura (Farsul), Elmar Konrad, e o presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja-RS), Luis Fucks.

Apesar do câmbio menor em relação ao mesmo período do ano passado, o representante da Farsul afirma que os valores estão, em média, cerca de 5% mais caros. Os fertilizantes tiveram alta maior, avalia Konrad, usando como base pesquisas de preços que já vem fazendo. “O fertilizante que usei no ano passado estava R$ 1,5 mil, e, hoje, está R$ 1,7 mil (alta de 13%). Isso com o dólar caindo. Há um descompasso.

A indústria alega que comprou seus insumos com cotação maior, e por isso está mais caro. O custo da nova safra é preocupante”, alerta o vice-presidente da Farsul.

Com a alta nos preços, o produtor está esperando para comprar. Konrad, por exemplo, diz que neste ano ainda não fez nenhuma aquisição de custeio, ao contrário de anos anteriores, já que a cotação do dólar está em R$ 3,75 e algumas projeções apontariam para uma queda até R$ 3,50. Mas a espera tem seus perigos: conforme se aproxima do período de plantio a tendência é de alta, lembra Fucks.

Na realidade do Estado, com uma média de produtividade de cerca de 55 sacas por hectare e um custo de produção em torno de 40 sacas/ha, os recursos da safra ficam quase todos pelo caminho, especialmente nas mãos da indústria, alega Konrad. “São armazéns cheios e bolsos vazios. Porém as aquisições e os tributos alimentam toda a cadeia, inclusive a governamental”, lamenta o produtor.

Apesar do custo, não há perspectiva de redução de área na próxima safra. Isso porque quem arrenda terras tem de produzir e quem tem áreas próprias não pode deixar parado. O risco real é mesmo de termos uma produtividade média inferior ao registrado no ciclo 2018/2019, que foi de 3,3 toneladas por hectare, segundo a Conab.

“Em alguns casos, há aumento de até 20% nos insumos, o que não tem explicação, e vai na contramão do esperado, tanto pelo dólar em queda como pelos problemas na safra norte-americana, que teoricamente deveria fazer sobrar insumos e levar a queda nos preços”, critica Fucks. 

Escolha da semente determina como será a produtividade

Investimento em sementes representa entre 5% e 15% do custo total dos insumos, diz Levien. MARCELO G. RIBEIRO/JC

O investimento em sementes representa entre 5% e 15% do custo total dos insumos, conforme a tecnologia utilizada, segundo o diretor técnico da Fundação Pró-Sementes, Alexandre Levien. A semente escolhida pelo produtor é um fator determinante para a produtividade e lucratividade.

E na hora de fazer a escolha desse item, que já começa a movimentar o mercado, o produtor conta com uma ferramenta importante e gratuita. Divulgado ontem em conjunto por Farsul e Fundação Pró-Sementes, o Ensaio de Cultivares em Rede 2018/2019 (ECR Soja RS) é, no mínimo, uma das primeiras referências a serem consideradas.

O levantamento feito no ciclo anterior, e que serve como base de análise para a futura safra, inclui testes feitos com 38 cultivares em oito cidades de diferentes regiões do Estado. Os resultados das lavouras de testes em Passo Fundo, Santo Augusto, São Luiz Gonzaga, Tupanciretã, Cachoeira do Sul, São Gabriel, Bagé e Vacaria estão disponíveis em www.fundacaoprosementes.com.br e www.farsul.org.br

Desenvolvido desde 2008, o estudo demonstra a produtividade média de diferentes sementes em variadas regiões, para que o produtor possa se basear nos dados aferidos antes de escolher a cultivar que irá semear e que melhor se adaptou ao solo e ao clima de sua região. Kassiana Kehl, coordenadora de pesquisa da Fundação Pró-sementes, explica em números a importância da escolha correta.

Na região de Santo Augusto, apenas entre as cinco cultivares que tiveram melhores produtivas a diferença é de 24 sacas por hectare. Em Santo Augusto, o plantio em pequenas áreas chegou a render 125 sacas por hectare, recorde no Estado, onde a média é de 55 sacas por hectare. “Se calcularmos em R$ 71,00 a saca, a diferença, mesmo entre as cinco cultivares que tiveram melhor resultado, significa R$ 1.704,00 a mais, ou a menos, no bolso do produtor”, diz Kassiana. 

Fonte: Jornal do Comércio

Foto: ANDRE NETTO/ARQUIVO/JC

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