‘Catarinenses são mais agressivos que gaúchos’, alerta ex-embaixador chinês no Brasil
Quando foi embaixador da China no Brasil, Chen Duqing visitou em 2008 o território gaúcho e recorda das características locais que chamaram a sua atenção. “O Rio Grande do Sul é um estado europeu, devido à sua ascendência, e tem um povo muito trabalhador e culto.” Mas indicando que apenas estes atributos não são suficientes para assegurar investimentos estrangeiros, Duqing manda um alerta ao governo e lideranças empresariais gaúchas: “Sem ofender, mas os catarinenses são mais agressivos que os gaúchos”. O ex-diplomata, que ocupou o cargo de embaixador no Brasil entre 2006 e 2009, reforça: “Está comprovado: o barriga verde é muito forte”. O recado do ex-embaixador está baseado em movimentos recentes do governo ‘barriga verde’ (referência ao estado vizinho) para atrair aportes de empresas chinesas. Missão esteve em junho em território catarinense com grupos chineses, liderada pelo Centro de Intercâmbio Econômico e Comercial Brasil-China, e com promessa de interesse em aplicar em logística, tecnologia, agronegócio, construção e área financeira. A gigante de tecnologia Huawei tem acordo de pesquisa em inteligência artificial e cidades inteligentes em Florianópolis, onde montou a primeira base de testes da internet móvel 5G, que só deve operar em 2021 no Brasil, em parceria com a TIM. Mais de 10 anos depois de desempenhar as funções diplomáticas, Duqing mantém a convicção sobre a importância da economia gaúcha, cita nomes de companhias com negócios na China, como Marcopolo e Randon, e que Caxias do Sul é o segundo ABC do Brasil, em referência ao polo automotivo. Um dos palestrantes do Seminário de Jornalistas e Oficiais de Imprensa dos Países de Língua Portuguesa, que ocorre em Pequim desde terça-feira (23), Duqing conversou com o Jornal do Comércio e citou, também como um conselho indireto, diálogo que travou com o ex-presidente da Fiergs Paulo Tigre quando esteve no Estado há 11 anos. ‘Primeiro, faz amizade, depois negócio’, diz Duqing “Perguntei se ele já tinha visitado a China e ele respondeu que a China era muito longe”, reproduziu o ex-embaixador, que, na época, encarou como atitude conservadora do dirigente industrial. “Não pode fazer intercâmbio comercial apenas por vídeo”, cutucou Duqing, indicando que os gaúchos têm de ir mais ao seu país para estreitar relações e gerar confiança. “Primeiro, faz amizade, depois negócio. A distância hoje não é mais obstáculo”, assegurou. No Rio Grande do Sul, a presença chinesa é verificada nas áreas como de energia, onde estão os maiores aportes, e segmento automotivo, com a Foton (joint-venture com brasileiros), em caminhões. A aprovação das privatizações das estatais CEEE, Sulgás e CRM pela Assembleia Legislativa podem atrair interesse. O governo gaúcho também deve lançar editais de concessões de estradas. Sobre os potenciais do Brasil para investimentos chineses, Duqing aposta em oportunidades para a área de infraestrutura e acredita que o governo de Jair Bolsonaro “vai ser útil” e vai apoiar mais aportes no Brasil. “Basta não perder dinheiro e recuperar o investimento que tudo se faz”, acredita o ex-embaixador. Em 2018, a China investiu US$ 120,5 bilhões em 161 países por meio de 5.735 empresas estrangeiras. O setor de construção é um dos mais pujantes e teve 69 empresas entre as 250 maiores grupos internacionais do mundo, somando aportes de US$ 11,4 bilhões, segundo o Ministério do Comércio chinês. No ano passado, o PIB do pais chegou a US$ 13,3 trilhões, 6,6% acima da cifra de 2017, com renda per capita de US$ 9.633,00, 69a posição no mundo. No front externo, a China ultrassom os Estados Unidos, e se se tornou o maior exportador do mundo, somando divisas de US$ 4,62 trilhões, 12,6% acima do desempenho de 2017. Os estados Unidos somaram US$ 4,21 trilhões.
Fonte: Jornal do Comércio
Foto: PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC/ – Jornal do Comércio