Antibióticos na produção animal: restrições à vista?
Sergio de Medeiros comenta as poucas opções de novos antibióticos no horizonte
Bactérias resistentes aos antibióticos são uma grande preocupação atualmente das organizações de saúde ao redor do mundo. O fenômeno de criar resistência às drogas funciona da seguinte forma: um novo antibiótico é muito eficaz para controlar infecções, mas, ao longo do tempo, algumas bactérias podem sofrer alterações genéticas que as deixam resistentes ao produto. Daí, é necessário lançar mão de um outro antibiótico para controlá-las, mas o mesmo processo deve-se repetir com este novo produto. Enfim, é nossa sina desenvolver sempre novos antibióticos ao longo do tempo.
Enquanto houver um produto alternativo na prateleira, o problema ainda é contornável, mas a questão é, exatamente, que estamos com poucas opções de novas drogas, quando olhamos no horizonte. Aliás, mesmo havendo alternativas, a resistência já causa mortes. Hoje, a maioria das pessoas já ouviu falar em “infecção hospitalar” e a enorme cautela que os profissionais que neles trabalham têm dela. As bactérias mais resistentes são encontradas neste ambiente, exatamente por ser um local onde elas são mais selecionadas, ou seja, quanto mais usamos os antibióticos, mais corremos o risco da resistência microbiana.
Como os antibióticos são usados na produção animal, a atividade também pode contribuir para o problema de criação de populações de bactérias resistentes. Portanto, estamos envolvidos na questão. Para fazer uma ideia melhor dela, trazemos algumas informações que, longe de esgotarem a questão, pelo menos levantam a importância de, além de fazer bom uso, estar preparado para futuras novas restrições ao uso de antibióticos que devem estar por vir.
O Brasil é o terceiro maior usuário de antibióticos na produção animal, atrás de China e EUA. Até 2030, devemos aumentar o uso em cerca de 50%, chegando próximo das 9 mil toneladas/ano; os EUA continuam em segundo, com pouco mais de 10 mil toneladas/ano, mas estima-se que a China mais do que dobrará o uso atual, ultrapassando as 30 mil toneladas/ano. Isso demonstra como ainda contamos com essa ajuda para a intensificação da produção de alimentos de origem animal.
Para os diferentes tipos de criação, quantidades bem diferentes de antibióticos são usadas. A média mundial de uso em bovinos é de 45 mg/kg de peso vivo, enquanto aves usam em média 148 mg/kg de peso vivo e suínos, 172 mg/kg de peso vivo. Nessas médias, estão incluídos tanto o uso terapêutico, ou seja, para tratar doenças, como o uso dessas substâncias como promotoras de crescimento. Como, quanto mais intensificada a produção, maior é o risco de doenças, maior é a necessidade de uso terapêutico de antibióticos, o que explica o uso mais de três vezes superior em aves e suínos.
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Fonte: Portal DBO
Foto: FAEP